Nesses 20 dias desde que saí do Equador, a Colômbia me conquistou. A exuberância verde de suas montanhas e a diversidade de clima logo me chamaram a atenção nos primeiros quilômetros pós-fronteira. Em algumas horas, todo o cenáro muda. As estradas vão a mais de 3 mil metros de altitude (como esta da primeira foto), com 10 graus de temperatura, e logo depois ao nível do mar, "mostrando um país tropical", com um calor de quase 40 graus. Até a comida e o sotaque do povo muda em uma distância surpreendentemente curta.
Logo após a primeira noite aqui, que foi numa cidade não muito aprazível, chamada Pasto, no primero café da manhã na estrada, perguntei o que havia de café da manhã. A resposta: carne, ovo mexido ou frango, com arroz e batatas fritas. Tem pão? Perguntei. Não. Disse a atendente do restarante às 9h da manhã com cara de espanto para uma pergunta tão estúpida. No dia seguinte, já estava em Cali, onde comer pão (com ovo também, claro) e café, no café da manhã, já é uma coisa normal.
A guerrilha, logo lembrada quando se houve o nome do país, não chegou a me preocupar em nenhum ponto das rodovias, que são extremamente vigiadas pelo Exército e pela Polícia Nacional. Rodei quase 3 mil quilômetros, cortando a Colômbia da fronteira com o Equador, no sudoeste do país, até a costa do Caribe, em Cartagena, onde estou agora, e todo o tempo vi muitos soldados patrulhando a estrada, principalmente no trecho até Cali, que fica mais próxima da costa do pacífico (esse ônibus acima é típico em toda a Colômbia).
Até agora, enquanto estive aqui, houve dois episódios que trouxeram a guerrilha para as primeiras páginas dos jornais, que foram o sequestro do jornalista francês e o atentado ao ex-ministro do governo Uribe em Bogotá. No primeiro caso, o jornalista estava cobrindo um combate entre forças do governo e da guerrilha quando foi capturado. Então, não é uma onda de sequestros fora das "áreas de conflito". No segundo episódio, apesar de eu ter passado pelo local da explosão umas duas horas antes, saindo da capital rumo a Medellín, acho que a probabilidade de ser atingido pela explosão é quase igual a de se ferir com um bueiro da Light no Rio.
Nas livrarias, o que mais vi são livros sobre o tema. E nas conversas entre viajantes, a guerrilha também é sempre mencionada. Mas em conversa com os colombianos, sempre que pergunto sobre o tema, noto que as pessoas desviam do assunto. E não é por medo. Acho que é mesmo porque já estão de saco cheio de serem perguntadas e de serem tão conhecidas pelo problema.
Além das forças armadas, as montanhas e a chuva (ela de novo, pelo menos uma horinha por dia) me acompanharam todo o tempo nas estradas, fazendo com que viagens de 400 km demorassem quase 10 horas. As montanhas ficaram para trás pouco antes de Cartagena, mas as chuvas não, tornando-se torrenciais todas as noites (a primeira me pegou a pouco mais de 10 km de Cartagena para dar as boas-vindas). Se você está a salvo é até bom para aliviar o calor de quase 40 graus, mas essa noite a hospedaria em que estou não me deixou tão a salvo assim e uma cascata caiu sobre minha cabeça às 4h da manhã, molhando tudo e me obrigando a mudar de quarto no meio da madrugada.
Além do campo e das florestas daqui, as três maiores cidades colombianas também me conquistaram. Bogotá, Cali e Medellín, cada uma tem sua peculiaridade e seu charme. Bogotá (a foto acima é da Praça Bolivar, no centro de Bogotá) foi a cidade de que mais gostei e em que mais tempo fiquei: uma semana. O suficiente para esmiuçar cada quarteirão da Candelária, bairro antigo ao lado do centro e onde fica a maior parte das hospedagens de mochileiros e dos prédios históricos. A beleza do casario colonial e de prédios de séculos atrás, a beira de montanhas verdes como as do Rio de Janeiro, dão um toque especial ao lugar. O porém é o número imenso de pedintes nas ruas. Que pena. Outro problema chega à noite. A chapa é quente e soube de pelo menos dois roubos a turistas que estavam no abergue em que me hospedei.
Bom, mas voltando aos fatos positivos: a música. Desde que saí do Brasil, a Colômbia foi o primeiro país em que escutei música local que não fosse aquele folclore andino das flautinhas. Em todos os outros, o pior da música brasileira e internacional é a trilha sonora dominante. Na Colômbia, a salsa, a rumba dão o tom e ainda tem uma interação bem grande com as demais sonoridades caribenhas, com destaque para a música cubana.
Bom, agora estou buscando uma forma de atravessar o chamado Darien Gap, uma área coberta de floresta do sul do Panamá em que não há estradas ou qualquer caminho. Para meu azar, os veleiros que fazem a travessia de Cartagena (essa última foto é da Cidade Murada, parte mais antiga de Cartagena) ao Panamá foram proibidos recentemente de levar motos, como costumavam fazer há anos. Bom, as opções são complicadas. A primeira é esperar um navio cargueiro para mandar a moto e que pode demorar bastante e com preços salgados (800 dólatres pela moto mais a minha passagem de avião). A segunda é pegar três ou quatro pequenos barcos de pesca e carga que cruzam os trechos entre pequenos povoados que ficam isolados na costa do Darien Gap. Se eu não conseguir confirmar um navio até terça-feira, acho que vou tentar a segunda opção.
Abraços,
Claudio.